
Por estes dias estou a banhos aqui, como quem sai de Recife em direcção a Maceió
e vira à esquerda.
O Carlos Tê só podia estar a pensar na Joana Amaral Dias quando escreveu isto para o Palma. Pensem nela, ouçam a canção e vejam se o Carvalho da Silva não começa a parecer mais fofinho, se não dá vontade de deixar de tomar banho, comprar um daqueles panos da louça que os palestinianos usam ao pescoço e ir para a rua tocar djambé. Como já perceberam a conjunção desta música com a imagem da Joana Amaral Dias pode provocar alucinações. Nesses casos lembrem-se que ela também tem hormonas e sofre de TPM como as outras. Não falha.
"Vermelho Redundante"
eu só quero ver o instante
em que chegas à manif
no teu Armani flamejante
qual vermelha passadeira
em vermelho redundante
que empalidece a bandeira
gritando slogans na rua
pela divisão da riqueza
enquanto nos gabinetes de veludo
o poder treme e recua
com medo da tua beleza
soneto de alta costura
a mais chique maravilha
para me sentir perdoado
por não poder estar a teu lado
quando tomares a Bastilha
Ao fim de três semanas, voltei a ter internet e telefone em casa. Para quem faz mil e uma coisas, ao mesmo tempo, a única ligação, plausível, ao mundo faz-se por cabo ou adsl.
Escusado será dizer que sofri e penei nestas últimas semanas. Para ajudar à festa consolei-me a ouvir a colectânea “As mais belas músicas em midi para empatar gajos que ligam para call centers – 2005”, quem em estrangeiro se intitula “Now What!?”.
Lá consegui marcar com um técnico para resolver a avaria. Depois de ele me ter convencido a trocar todos os aparelhos e cablagens, com a respectiva encomenda confirmada, eis que se fez luz. A mulher-a-dias, contemporânea de Pedro Álvares Cabral, nas suas lides domésticas, tinha decidido trocar todos os transformadores.
Para completar o quadro, uma parte substancial dos meus livros desesperou e lançou-se do alto das prateleiras.
Há dias em que me divido entre a vontade de chutar as pilhas de livros do escritório ou esganar esta cópia mal amanhada do infante D. Henrique que me faz as limpezas.
"Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores."